Joy Division




O amor vai nos destruir. A tradução de “Love will tear us apart”, escrito por Ian Curtis, ajuda a compreender a vida, e muito em especial a morte de Ian Curtis.
Ian Kevin Curtis, não foi um jovem vulgar. Com um breve percurso académico, embora revelador de um grande talento para a escrita, Ian absorveu os poemas de William Burroughs, J G Ballard e Joseph Conrad, enquanto escutava Jim Morrison, Lou Reed, Iggy Pop e David Bowie. A sua dupla paixão pela poesia e pela música levava-o a escrever letras para música com uma profundidade sombria pouco comum à época.
A sua adolescência é passada em escapadelas à escola, e em fugas a si próprio ingerindo toda a espécie de medicamentos que o alienasse. A geração dos seus pais, extremamente conservadora, incutiu em Ian, valores que ele aceitou mas sem os compreender, os quais revelava nos temas que escrevia e nas opções de vida que fazia.
Ian , completamente apaixonado, casa-se muito jovem com Deborah Curtis e trabalha como funcionário público como assistente num centro de emprego para deficientes em Manchester, enquanto procura a sua libertação na música.
Após assistir a um concerto dos Sex Pistols, procura em Bernard Sumner e Peter Hook companhia para o seu sonho. Encontrado Stephen Morris, o baterista, estava reunido o quarteto que compunha Warsaw, o primeiro nome dos Joy Division.
Na época, Manchester, era uma cidade que fervilhava e procurava a sua independência face a Londres. Tony Wilson, apresentador musical da Granada TV, e frequentador da cena musical, foi abordado em tons pouco cordiais por Ian que o convenceu a levá-lo ao seu programa de televisão. Assim se estrearam com Shadowplay em 1978.




Quando Rob Gretton, entretanto tornado agente dos Joy Division, decide que a banda gravaria o seu album de estreia em Manchester, cria-se a oportunidade para o surgir da Factory Records, que iria catapultar o nome dos Joy Division, e em simultâneo elevar-se a si própria ao estatuto de etiqueta de culto.
O 1º álbum dos Joy Division , “Unknown Pleasures”, produzido por Martin Hannett e gravado num estúdio de John Peel, surge em Junho de 1979, e fica demonstrado o talento de Ian Curtis na escrita.
Fac 10 - Unknown Pleasures


A digressão que se segue ao lançamento do álbum começa a atrair uma legião de fãs atraídos pelas actuações electrizantes de Ian em palco. A sua forma convulsa de dançar como que exorcizando demónios interiores mostra uma nova forma de partilhar emoções que contagia todo o público. Enquanto cresce a fama dos Joy Division e Ian vê chegar o reconhecimento que sempre ambicionou, a sua vida desmorona-se. Os ataques epilépticos sucedem-se e a panóplia de medicamentos que ingere vai fragilizando cada vez mais a sua estrutura física e mental, o seu casamento atravessa uma crise profunda depois de conhecer Anik Honoré, por quem se apaixona e a sua relação com Deborah e a filha Natalie provoca-lhe um desconforto com o qual não sabe lidar.
Chega então o convite para uma digressão nos E.U.A. quando Ian tem apenas 23 anos. Após uma discussão intensa com Deborah, na noite de 18 de Maio de 1980, em vésperas de partida para o continente americano, Ian regressa a casa à procura de Deborah, ingere uma garrafa de whisky e com o vinil de Iggy Pop a rodar prepara a corda que o desprende da vida.
Na sua lápide, Deborah mandou inscrever “Love will tear us apart”, pois acreditou que a vida de Ian foi uma vida de amor.



“Love will tear us apart”, o tema mais célebre dos Joy Division atinge o número 13 do top britânico e o LP “Closer” lançado logo após a sua morte chega ao Top10.
O resto da banda cria New Order e alguns dos seus trabalhos ainda reflectem a matriz depressiva de Ian.
Quanto a Ian, não mais foi esquecido. As compilações pós-morte multiplicam-se, a sua mulher escreve “Carícias Distantes” (Touch from a distance) uma biografia de Ian Curtis e Anton Corbijn realiza em 2007 “Control” um filme biográfico.
A sua influência musical nota-se ainda hoje em bandas como Interpol, Bloc Party ou She Wants Revenge.
Faz hoje 27 anos que nos deixou e não é demais lembrar as palavras que o poeta Al Berto lhe dedicou e que encontrei num artigo assinado por Cristiano Pereira no Jornal de Noticias.

“depois dança contorce-se embriagado
cobre o rosto suado com a ponta dos dedos espalha
sangue e cuspo construindo a sua derradeira máscara
cai para dentro do seu próprio labirinto
como se a verticalidade do corpo fosse um veneno".
in “Noite de Lisboa com auto-retrato e sombra de Ian Curtis”
Al Berto

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